
O LEGADO DE UM CRAVO_AVC
Alberto Céspedes
Created on July 9, 2023
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Transcript
INÍCIO
OBJETIVOS
- Proporcionar recursos didáticoS de variada natureza que permitam a exploração pedagógica do livro «A Vida Social das Coisas» em contexto de sala de aula.
- Mostrar como os mecanismos de represão da Ditadura e do Estado Novo criaram um regime onde a violência foi estratégia de controlo social e político.
- Honrar todos os que resistiram a esta violência e lutaram pela liberdade em condições de clandestinidade.
- Destacar a importância da preservacção de lugares de memória como o Museu do Aljube Resistência e Liberdade.
Um Estado Novo mas com roupas velhas: repressão, tortura, censura, polícia política, controlo da educação, pensamento único... Nos seus 48 anos de existência, após o golpe militar em 1926 que derrubou a Primeira República, a Ditadura e o Estado Novo exerceram, nas palavras do historiador Fernando Rosas, uma dupla violência que permitiu, entre outros fatores, a longa durabilidade do regime.
ditadura e represSão
01
... e não tremia em aplicar a repressão direta, a tortura, os encarceramentos injustificados e até a morte dos suspeitos. Polícia secreta, prisões políticas, campos de concentração foram pilares deste regime repressivo.
Sustentado em diversos organismos do Estado, e com o apoio da Igreja católica, o regime exercia o controlo das mentalidades através da propaganda, da censura, da educação, da vigilância dos locais de trabalho...
Violência punitiva
Violência preventiva
ditadura e represSão
01
a CENSURA
«Corrijo muito, sou um firme defensor das verdades indiscutíveis do nosso grande líder e que sempre foram o meu guia para riscar documentos. Que belo discurso aquele de Braga, por amor de Deus! Que homem! Uma lástima que, aos ouvidos, pareça um adolescente em plena mudança de voz. Os princípios do nosso regime em poucas palavras — síntese e clareza. Certeiro como uma seta. Quem pode discutir algo assim?»
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APAGAR AS VOZES
A expressão livre de pensamentos e opiniões é característica da natureza racional humana, e a divergência de atitudes é inerente à sua diversidade. Reprimir ou controlar a liberdade de expressão tem por objetivo condicionar pensamentos e comportamentos de indivíduos ou grupos, para a manutenção de um estatuto e de um poder dominante, retirando o direito de cada um decidir ou agir segundo a própria determinação. Viver com temor de se expressar ou de apoiar certas opiniões por medo de represálias pode provocar graves sequelas emocionais. Costuma condicionar a sua expressão ao julgamento alheio?
Deus,Pátria,Autoridade,Família, Trabalho
Portugal, Fascismo, Igreja, Império
História, Império, Memória,Pátria
PERGUNTA
Quais foram as «certezas indiscutíveis» do Estado Novo formuladas por Salazar no seu discurso em Braga em 1936?
SEGUINTE
As «verdades indiscutíveis» do fascismo português não foram um mero enunciado retórico, uma moral abstrata. Um vasto aparelho de propaganda e de inoculação autoritária desses valores a todos os níveis da sociabilidade – na família, na escola, no lazer, – seria criado pelo regime nesses anos 30 dando corpo à clara apetência autoritária do Estado Novo.
CERTO!
a EDUCAÇÃO NACIONAL
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«A Santíssima Trindade do Estado Novo. Deus, Pátria e Família, a trilogia da educação nacional. Não é preciso mais. Três palavras que, como três estrelas, iluminam o universo salazarista e resumem o essencial da nossa vida. Comida, saúde, liberdade, justiça? Isso são cometas que passam velozmente, deslumbram, mas rapidamente caem, não permanecem. »
EDUCAR NA OBEDIÊNCIA
A educação é o instrumento mais valioso de crescimento pessoal e tem o importante papel de promover o desenvolvimento de cada indivíduo no sentido da sua realização plena, com liberdade de sonhar e escolher o seu percurso de vida, em consciência e responsabilidade social. O contexto escolar é um espaço privilegiado de educação para os direitos humanos. Compete à escola contribuir para a socialização dos valores da liberdade, da justiça, da pluralidade e da igualdade, na construção de uma cidadania equitativa no que ao género diz respeito. E quanto a si? Teve acesso a uma educação baseada nos valores de liberdade e pluralidade?
«Em Portugal, não foram precisos cartazes a incitar à luta numa guerra civil, felizmente não vivemos uma tragédia como essa. O regime do Estado Novo também apreciava cartazes, úteis na doutrinação de um povo que se queria iletrado, exposto a mensagens para fomento do consumo de produtos nacionais, para a perpetuação dos brandos costumes, para expor um glorioso passado, disfarçar um presente repressor e mascarar um futuro incerto. Era preciso transmitir uma grandeza que não existia, era preciso combater o debate e a resistência.»
a PROPAGANDA
EDUCAR SEM ir à ESCOLA
A comunicação persuasiva transmitida num cartaz pretende exercer influência sobre os seus destinatários, conduzindo-os a determinado comportamento. Se a persuasão for emotiva, liga-se aos sentimentos humanos, estados afetivos complexos que influenciam os seus comportamentos. A emoção evocada na mensagem pretende ser um estímulo que desencadeia um sentimento, exercendo influência sobre a pessoa sem participação ativa da sua vontade. Coragem, bravura, posse, desejo, alegria são sentimentos a que a comunicação estratégica recorre através de processos associativos. Já pensou na influência que a comunicação persuasiva, sob a forma de cartaz ou anúncio, tem sobre o seu comportamento?
a VIGILÂNCIA
«Temos muitas secções, tudo muito bem arrumadinho. Há uma secção colonial, outra sobre a imprensa, sobre empresas, sobre a censura, sobre as escutas telefónicas, sobre as cartas intercetadas… Muitas fichas sobre republicanos, reviralhistas, monárquicos, comunistas, socialistas… Bem classificadas como também recomendaram os americanos. Até se vigiam uns aos outros, aqui todos desconfiam de todos. Qualquer dia, ainda ficamos sem espaço, porque começam a suspeitar e a fazer fichas dos cães de rua. »
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vidas sem anonimato
Viver numa condição de visibilidade consciente, sem possibilidade de identificar o observador nem saber em que momento se está a ser observado, conduz à interiorização de um estado de autovigilância, que reforça o funcionamento de autoridade de poder. O indivíduo vigiado e controlado vive num constante estado de alerta perante uma ameaça iminente e uma ansiedade intensa que perturba a sua capacidade de controlar pensamentos e imagens angustiantes, intrusivos e recorrentes. Alguma vez sentiu o seu direito à privacidade comprometido?
REGIME PRISIONAL
«Se calhar, nunca ouviram falar de nós. Também não sei muito bem porque nos puseram este nome ridículo — «curro». Cela de Isolamento seria mais sério, como doutor ou engenheiro. Já curro é para pobres!! Isto é gozar, já não há respeito. Diziam que ficavam «encurralados», bonita metáfora. É verdade que éramos pequenos, escuros e malcheirosos, mas cumpríamos uma função muito importante lá dentro. Quem cá entrava não saía igual. Éramos pequenos, mas temos grandes histórias para contar, lá nenhum dia era aborrecido. »
OS efeitos dA PRISÃO
Depois de uma experiência prisional de maus-tratos e tortura, poucas pessoas permanecem iguais. A dignidade humana não pode prescindir da satisfação das necessidades básicas. Impedir um ser humano de se locomover e sujeitá-lo à máxima precariedade reprime as dimensões biológica, psicológica e social da sua vida. Numa esfera de terror, medo e sofrimento, o sentido de propósito poderá ser a única fonte de liberdade espiritual e de coragem para o indivíduo se manter vivo e não desistir de lutar. Possuir um significado da própria existência, um sentido de missão e um sentimento de esperança de reencontrar quem se ama podem ser fontes de alívio das dores do corpo e da alma sofrida, bem como de força na luta por sobreviver.Que razões lhe dariam coragem para superar uma experiência de adversidade?
REGIME PRISIONAL
«Outra porta que fecha, outra chave a dar sete voltas na fechadura, e outra porta a fechar, e outra fechadura... Agora é uma janela. Porra, aqui passam a vida a fechar tudo! Pensam que vamos fugir? Nem tenho forças para caminhar, como poderia correr e fugir? Levava um tiro na carola antes de sair pela porta, com tanto guarda por todo lado. Continuem a fechar, não escape o gato. Se quiserem fechar de verdade, fechem já a tampa do meu caixão, e assim acaba tudo de vez. Não é o que querem?...»
OS RUÍDOS NA PRISÃO
O ser humano não consegue proteger-se de sons desagradáveis fechando os ouvidos, tal como faz naturalmente com os olhos. A sua mente associa os sons a lugares, a pessoas e a eventos que experienciou, ficando estes a fazer parte da sua memória. O uso abusivo de sons indesejáveis transforma-se em ruído, provocando uma sensação desprazível e irritante que é prejudicial à saúde física e psicológica. A exposição ao ruído em ambiente fechado prejudica a atenção, a concentração, a memória, o equilíbrio, a comunicação e o descanso, levando à inquietação e ao comportamento agressivo. Se ocorrer de forma continuada, pode gerar perturbação psicológica, nomeadamente perturbação do sono, ansiedade e depressão. E quanto a si? Costuma estar frequentemente exposto a ruído?
REGIME PRISIONAL
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«Caminhar, caminhar, caminhar e não chegar a parte alguma. É de enlouquecer. Nem sequer sei se isto é caminhar, apenas dois passos entre uma parede e outra. Não há luz, cheira mal, faz muito frio… Dói-me o corpo, dói-me a alma das injustiças. Não resistirei, não acredito que alguém possa resistir a isto. Sei que vou quebrar, imagino que todos acabem por quebrar, e eles sabem-no. Agora, vêm com a conversa de que posso sair se denunciar os camaradas. Não posso fazê-lo, seria uma sacanice. Tenho a cabeça à roda, o que devo fazer?»
as dúvidas nA PRISÃO
A indecisão e incerteza perante uma situação é como estar simultaneamente em diferentes lugares e em lugar nenhum. Constitui uma divisão interna que despende muita energia, podendo levar à paralisação pela dúvida. A tomada de decisão é a saída da hesitação, um processo que exige esforço e que está longe de ser uma análise racional, por implicar memórias de experiências passadas e aprendizagens que evocam emoções e sentimentos que influenciam a resolução. Decidir com autonomia, sem a influência de opiniões, julgamentos ou expetativas de terceiros, é fundamental para o desenvolvimento e a liberdade individual. Qualquer objetivo, projeto ou sonho pode passar pela hesitação, mas a sua concretização depende da decisão. Qual foi a decisão que implicou mais esforço na sua vida?
PRISÕES E campos DE CONCENTRAÇÃO
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polícia secreta
«Tenho de respeitar muitas regras. Pedem para que seja colocado na parte superior esquerda do casaco, perto do coração. Não deixa de ter graça, estes gajos nem sabem o que é a esquerda — só quando é para deter alguém — e muito menos têm coração. Foi-lhes tirado quando nasceram e colocado um calhau no seu lugar. Já é muito se souberem fechar o alfinete. Ouvi dizer que alguns julgam que é para segurar com os dentes. É por isso que fizeram estes desenhos sobre como devo ser usado, são mesmo curtos de entendimento.»
O poder dos símbolos
Um simples crachá pode ser um poderoso objeto de intimidação, uma estratégia de manipulação baseada na exploração do medo, para impor regras, normas e padrões sociais. O medo é uma emoção básica, primitiva, fundamental à sobrevivência, que conduz à luta, fuga ou paralisação, dependendo da posição do indivíduo perante o perigo. Atualmente, grande parte dos medos que atormentam o ser humano existem apenas na sua imaginação, não sendo reações a verdadeiras ameaças, todavia, o cérebro não consegue distingui-las. Os mecanismos de alerta ativam-se, desencadeando uma sucessão de alterações fisiológicas e químicas que preparam o individuo para escapar de uma ameaça real, prejudicando a sua saúde e conduzindo a um sofrimento dispensável. Como costuma lidar com os seus medos?
Polícia de Informações do Ministério do Interior (PIMI)
Direção Geral de Segurança (DGS)
Secção de Vigilância Política e Social da Polícia Internacional Portuguesa
Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE)
Polícia Internacional Portuguesa (PI)
Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE)
Polícia de Defesa Política e Social (PDPS)
Polícia Internacional de Lisboa (PIL)Polícia Internacional do Porto (PIP)
a polícia secreta
1969
1928
1926-1927
1933
1945
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1931
TORTURA
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«A partir do momento em que atravessavam a porta de entrada, a PIDE organizava uma «visita guiada», sempre ao serviço do cidadão, não fossem dizer que não éramos um povo hospitaleiro. Um «percurso turístico» que, após a detenção, passava pela tentativa de identificação, pelos interrogatórios, o isolamento, um julgamento sumário e uma sentença precipitada, normalmente condenatória como era de prever. Não poupavam nos procedimentos, embora a decisão final já estivesse tomada antes de os iniciarem. »
A IMPORTâNCIA DE NÃO ESQUECER
A memória e a verdade são alicerces da luta contra o abuso dos direitos humanos. Preservar os espaços que guardam recordações traumáticas e transformá-los em lugares de memória permite o acesso a informação sobre práticas de graves violações dos direitos humanos e a objetos de construção de consciência social. No entanto, para que esses lugares se constituam lugares de memória, é indispensável que haja intenção e vontade de memória.Reconhece a importância de preservar os lugares de memória?
Neste contexto de violência existiram coletivos e indivíduos que resistiram e lutaram pela liberdade. Esta luta legítima e necessária, adoptou formas diversas e foi cruelmente perseguida. Muitos dos seus protagonistas sacrificaram a sua vida, mas criaram as condições que permitiram a Revolução do 25 de Abril.
CLANDESTINIDADE E RESISTÊNCIA
02
IMPRENSA CLANDESTINA
«O processo da minha criação é divertido, se é que se pode dizer assim. Antes de mais, é necessário garantir o material: rolo, tintas, papel e chumbo. Tarefa difícil, não são coisas que alguém leve na mala no seu dia a dia. Se um polícia ou um pide te apanha com isto, estás mesmo feito! Depois, há que preparar o estêncil e abafar o cheiro a carbono, para que os vizinhos não suspeitem, pois que também há bufos confortavelmente instalados no seu sofá.»
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MANTER VIVA A ESPERANÇA
A informação potencia o desenvolvimento do ser humano, que tende, naturalmente, ao conhecimento. O acesso à informação é empoderador, dele depende a liberdade de pensamento e de expressão, as escolhas livres, conscientes, as decisões esclarecidas e o exercício de todos os restantes direitos humanos. O direito à informação deve ser mantido, protegido e transmitido enquanto instrumento de evolução de todas as sociedades. Alguma vez se sentiu privado do seu direito de ser informado?
IMPRENSA CLANDESTINA
«A nossa música foi silenciada muitas vezes. Ditadores de todo o tipo tentaram apagar as nossas mensagens, eliminar aquilo que os ofendia nas melodias que produzíamos. Mas momentos houve em que silenciaram a nossa sinfonia por causas nobres, para que fossem produzidos textos apressados com palavras proibidas, a incitar à luta, a não perder a comunicação com os que sofriam, a manter o ânimo vivo, a transmitir instruções que permitiam organizar uma resistência eficaz. Colocavam sobre nós uma tampa que atenuava o som que nos podia denunciar, apagando assim cruelmente a voz que mantinha vivos tantos camaradas.»
máquinas para motivar
Nem tudo o que parece é e nem todos somos o que parecemos. Uma circunstância de pressão social e de insegurança pode exigir a ocultação temporária da verdadeira identidade e propósito e requerer a transformação da aparência, para integração num determinado contexto. Numa situação de dissimulação, o mais importante é de facto não deixar de ser fiel ao Eu interior, à verdadeira identidade, ainda que secreta, preservando a congruência com aquilo em que genuinamente se acredita e por que se anseia. Que característica da sua identidade já disfarçou por se sentir inseguro(a)?
documentos e carimbos falsos
«Os carimbos também são bons, brilham como os verdadeiros em cima do papel. Pam, pam e pam! Documento selado como o original. Já te safas da tropa, já tens a carta de condução, um bilhete de identidade com outro nome. Tem a certeza de que o manda alguém do partido? Veja lá, que não quero aqui gatunos que roubam à sogra e tentam fugir depois. Isto é muito sério, estamos a preparar o fim deste regime e todas as armas são bem-vindas, mas bandidos não queremos, que só atrapalham e depois confundem-nos com eles.»
legítimo, não legal
Enganar ou mentir são comportamentos intencionais presentes em todas as culturas, realizados por todos os grupos sociais, desde a mais tenra idade. Estes comportamentos podem ser utilizados para preservar relações e para controlar indivíduos, levando-os a praticarem algo que, de outra forma, não o fariam, em benefício do mentiroso ou de outros, no sentido de maximizar um ganho ou evitar uma perda. O mentiroso omite a verdade, elabora uma tese alternativa plausível para o indivíduo enganado e, simultaneamente, oculta sinais de nervosismo. Este processo implica mais funções cognitivas do que dizer a verdade, requer criatividade e inteligência, boa memória e controlo emocional. Alguma vez teve de recorrer à mentira legítima para sair de uma situação de injustiça?
RÁDIO CLANDESTINA
«Os meus botões começaram a dançar nas suas mãos atrapalhadas, desorientados, à procura de uma frequência que demorava em aparecer. Ruídos estranhos, metálicos, misturados com silêncios expectantes, até que, subitamente, «Amigos, Companheiros e Camaradas, daqui fala a Rádio Voz da Liberdade, em nome da Frente Patriótica de Libertação Nacional…» Fiquei paralisada, parecia uma cena demoníaca, em que era possuída por outra entidade. Não era uma voz profissional, parecia enlatada, mas as palavras soavam livres, frescas, entusiastas, fluíam, queriam dizer muito em pouco tempo.»
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O PODER DA VOZ
Numa situação de isolamento e clandestinidade, a rádio aproxima a sua audiência. A voz que está do outro lado pode tornar-se uma presença na vida do ouvinte. A identificação com o discurso do locutor cria uma aproximação emocional, estabelece uma relação de confiança e uma atmosfera de cumplicidade, como se existisse um diálogo entre iguais. Gera-se um sentimento de pertença, associado à empatia entre o auditório e a voz do locutor, que, mais do que fazer companhia, tem o poder de gerar sentimentos de união, coragem e otimismo. Já sentiu proximidade com um locutor de rádio apenas através da sua voz?
RESISTÊNCIA ESTUDANTIL
«3 horas da tarde. Já estou nervosa. Em pouco tempo estarei a rolar pelo relvado, aos pontapés. Não dói, fui feita para isso. Redondinha, irrequieta, revestida de couro. Apareço e 22 tipos correm atrás de mim como que possessos, esquivando-se do senhor de preto que apita constantemente. Até irrita às vezes. Nos dias de jogo, sou o centro de todas as atenções, mas hoje o ambiente está diferente. Estamos a chegar ao Estádio Nacional e vejo GNR a cavalo por todo o lado, polícias com cães, jipes da polícia de choque com metralhadoras a postos. Parece um cenário de guerra, não a festa do futebol.»
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resistência coletiva
O futebol é o desporto mais popular em todo o mundo. A atmosfera de um jogo de futebol está carregada de entusiasmo e excitação, transformando-se o estádio num palco de emoções vividas por todos aqueles que participam do espetáculo. Este palco converte-se numa oportunidade única para a comunicação massiva junto dos seus espetadores, pois, em momentos positivos emocionalmente intensos, o ser humano capta e retém melhor as experiências vividas, ficando mais propenso a desenvolver atitudes favoráveis ao teor da mensagem a que é exposto. Já pensou nas mensagens de propaganda a que é exposto quando assiste a um jogo de futebol?
RESISTÊNCIA na prisão
«Dói-me perceber que, no fundo, éramos o único remédio que surtia algum efeito. Outros escreviam compulsivamente. Era paradoxal, cada carta que escreviam registava mais um período de encarceramento, mas ao mesmo tempo representava uma pequena evasão, uma fuga através do papel por uma janela imaginária. Precisavam desta terapia, a felicidade que sentiam por manterem viva a comunicação compensava a dor de escrever e relembrar.»
resistir na solidão
Escrever uma carta pode ser uma maneira eficaz de lidar com situações difíceis. Usar a expressão escrita para manifestar emoções e pensamentos facilita a atribuição de um significado às experiências dolorosas. O momento de procura de palavras para descrever a situação vivida é útil para a reestruturação do trauma e processamento dos sentimentos envolvidos, contribuindo para a recuperação. Se, pelo contrário, uma vítima tiver de disfarçar sequelas emocionais resultantes de experiências de dor e sofrimento, esse esforço vai condicionar os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos e comprometer a superação. Costuma escrever sobre as suas experiências mais difíceis?
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FUGAS
«Dentro do carro, a confusão não era menor. Gritavam, riam, choravam, tentavam agarrar- se aos assentos e só olhavam em frente. Os disparos continuavam, mas cada vez mais longínquos. Na rua, praticamente não havia ninguém e os que viam o carro avançar estrada fora ficavam com cara de assombro. O António pediu calma e todos sossegaram um pouco. Agora eram amigos?! Mas ele não era um rachado?! Comecei a perceber que tinha sido tudo encenado há muito tempo.»
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O ESCAPE DA FUGA
A reação de fuga é uma resposta automática, inata e primitiva do nosso corpo, que, de forma involuntária, aumenta a frequência cardíaca, respiratória e a concentração do gasto energético, para garantir a resposta motora eficiente de sobrevivência. A capacidade de planear a fuga e escapar do perigo no momento certo requer audácia, uma emoção que vai além da coragem e que gera estratégias derivadas da clareza de pensamento. Uma pessoa audaz tem objetivos claramente definidos, desejo de agir de forma correta, um código ético e vontade de vencer o medo.Fugir do perigo pode ser um ato de coragem, alguma vez lhe aconteceu?
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O colonialismo serviu à Ditadura e ao Estado Novo para legitimar a grandeza do povo português e foi uma fonte de enriquecimento económico para os setores que apoiaram o regime. Mas, paradoxalmente, o empenho em manter um império anacrónico foi o maior acelerador da sua queda. A guerra colonial e os seus efeitos no Exército e na imagem exterior de Portugal terminaram por criar as condições para a Revolução de Abril.
COLONIALISMO
03
Manuel Pinto da Costa (1937-…). Dirigente do Movimento pela Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), foi presidente do novo país entre 1975 e 1991.
Aristides Pereira (1923-2011). Fundador e dirigente do PAIGC, foi o primeiro presidente de Cabo Verde, entre 1975 e 1991.
Agostinho Neto (1922-1979). Líder do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e primeiro presidente de Angola depois da independência.
Nino Vieira (1939-2009). Um dos líderes militares do PAICG, ocupou vários cargos após a independência da Guiné-Bissau, incluindo o de presidente.
Samora Machel (1933-1986). Líder da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e primeiro presidente de Moçambique depois da independência.
Amílcar Cabral (1924-1973). Fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), foi o principal teórico da luta anticolonial. Foi assassinado em 1973.
“A nossa luta, não é uma luta de ódio. Nossa luta, não é uma luta contra os portugueses. Nós lutamos para libertar a nossa terra do colonialismo português. Nós lutamos para fazer uma terra livre, onde todos os homens possam viver em Paz.” Amílcar Cabral, entrevista à Rádio Voz da Liberdade, 2 de julho de 1966.
COLONIALISMO
03
império colonial português
«Vejam agora o que fizeram comigo. O que é isto?! Estão a gozar?! Até tenho vergonha de entrar num atlas. O que terá fumado o tipo que fez esta aberração? Moçambique na costa de Alicante? Que andará a fazer por lá, a perseguir turistas em biquíni? Angola a ocupar a Alemanha? Imaginam a cara do Hitler?… Guiné nas Astúrias? Devia estar a fazer uma caminhada no Picos de Europa. E Timor em Burgos, com o frio que lá faz? Às tantas, estava a meio do Caminho de Santiago. Santa paciência!!»
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O DESEJO DE SER GRANDE
Numa sociedade em que as relações interpessoais são condicionadas pela aparência, é frequente tentar impressionar mais pelo que se possui do que pelo que se é. Evocar grandeza e evidenciar uma imagem sobrestimada ou desproporcional de si e das próprias capacidades ambiciona a valorização de outros, para conquista de posições de destaque e poder. Contudo, são intangíveis os valores que enriquecem e fortalecem as relações… Em que características suas se basearia se pretendesse impressionar alguém?
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império colonial portuguÊs
«Nas diferentes campanhas em que participei, encontrei mortos em todo o lado, corpos mutilados, homens e mulheres tratados pior do que animais, golpes e gritos por tudo e por nada. Os pretos eram tratados como cães, mas eram os brancos que ladravam. Precisavam de matar para afirmar a sua autoridade, de humilhar para se fazerem respeitar, sempre resguardados pela justiça das armas que os protegiam. Gostavam de registar o seu poder em fotografias, imortalizar a morte que provocavam nunca era suficiente.»
REGISTAR O HORROR
A fotografia é o registo de um instante, de um momento tornado eterno. Uma fotografia pode constituir uma importante fonte documental e ter um papel determinante num quadro de resistência e revolução. O disparo de uma câmara que regista comportamentos de humilhação e de brutalidade pode converter-se no tiro certeiro sobre a autoridade de quem os pratica. Que fotografias escolheria para documentar a sua vida?
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E depois de quase 40 anos, uma parte do exército e da populção saiu à rua no 25 de Abril para recuperar a liberdade. Uma revolução que dignifica a história do nosso país e que nos permite viver em democracia. Um belo final que deixou protagonistas e símbolos que devemos preservar na memória das futuras gerações.
A LIBERDADE
04
0 25 de abril
«Subimos pelo Chiado e chegámos ao Largo do Carmo. Aí a confusão era total, não cabia uma alma na praça. Comecei a temer ser esmagado no meio de tanta gente. A Celeste falava animada com um soldado que lhe pediu um cigarro. Como não fumava e o tipo insistia, de repente agarrou em mim e enfiou-me na espingarda do soldado. Até senti um calafrio. Eu, que sonhara fazer parte de grandes decorações, acabei numa arma. Estranha jarra para um cravo como eu.»
O VALOR DOS SÍMBOLOS
Uma flor não é apenas uma flor. Há milhares de anos que o ser humano usa flores como símbolos marcantes no seu percurso de desenvolvimento vital (na comemoração de um nascimento, num casamento, na despedida de um ente querido) e na sua história (nomeiam guerras, figuram em bandeiras nacionais, representam revoluções). As flores tornam o ambiente mais acolhedor, fomentam a partilha, aproximam pessoas e induzem emoções positivas. Qual é o objeto que, para si, representa a liberdade?
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0 25 de abril
«Agora que a malta pode sair à rua e dizer o que pensa, todos querem fazê-lo aos berros. Nestes dias, a que chamam de período revolucionário, somos o objeto mais desejado em qualquer greve, manife ou mobilização. Há sempre alguém com vontade de dar instruções, dizer palavras de ordem, animar, reivindicar. Têm sido muitos anos de repressão e silêncio, de vozes apagadas e sussurros clandestinos, e compreendo que agora as palavras de esperança e liberdade queiram sair todas juntas e aos gritos.»
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O VALOR DOS LÍDERES
A voz é um elemento com extrema influência na comunicação. Um megafone permite ampliar o som e projetar a voz de um indivíduo, facilitando a sua comunicação com grandes grupos. O timbre, a intensidade do som, a velocidade da dicção, a clareza e a projeção dão sentido, consciente e inconsciente, à mensagem transmitida e geram uma imagem acerca das pessoas. Uma voz firme e segura sugere que quem fala é distinto e importante, um tom de voz baixo sugere uma pessoa frágil e tímida. Se tivesse oportunidade de comunicar com grandes grupos, que mensagem gostaria de transmitir?
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«O futuro cria-se no presente com a memória do passado.»
OBRIGADO
CRÉDITOS