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Boas Festas da Biblioteca Escolar - atividade de leitura

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Transcript

1

O suave milagre - Eça de Queirós Nesse tempo Jesus ainda não se afastara da Galileia e das doces, luminosas margens do lago de Tiberíade, mas a nova dos seus milagres penetrara já até Enganim, cidade rica, de muralhas fortes, entre olivais e vinhedos, no país de Issacar. Uma tarde um homem de olhos ardentes e deslumbrados passou no fresco vale, e anunciou que um novo Profeta, um Rabi formoso, percorria os campos e as aldeias da Galileia, predizendo a chegada do Reino de Deus e curando todos os males humanos. Ora então, vivia em Enganim um velho, por nome Obede, de uma família pontifical de Samaria, senhor de fartos rebanhos e de fartas vinhas.

2

Apenas ouvira falar desse novo Rabi da Galiléia que logo pensou que Jesus seria um desses feiticeiros, tão costumados na Palestina, mais novo e com magias mais viçosas, de certo. Então Obede ordenou aos seus servos que partissem, procurassem por toda a Galiléia o Rabi novo, e com promessas de dinheiros ou alfaias, o trouxessem a Enganim. Sem demora, os servos apertaram os cinturões de couro e largaram pela estrada.

3

Um dia, já com as sandálias rotas dos longos caminhos, pisando já as terras da Judeia romana, cruzaram um fariseu sombrio, que recolhia a Efraim, montado na sua mula. Com devota reverência detiveram o homem da Lei. Encontrara ele, por acaso, esse Profeta novo da Galiléia que, como um Deus passeando na terra, semeara milagres? A adunca face do fariseu escureceu enrugada – e a sua cólera retumbou como um tambor orgulhoso. Saltou da mula e com pedras da estrada apedrejou os servos de Obede, uivando: Raca! Raca! e todos os anátemas rituais. Os servos fugiram. E grande foi a desconsolação de Obede, porque os seus gados morriam e as vinhas secavam, enquanto a fama de Jesus da Galiléia, crescia.

7

Assim correram a Baixa Galileia. Mas do Rabi só encontraram o sulco luminoso nos corações. Enfastiados com as inúteis marchas, desconfiando que os judeus sonegavam o seu feitiço para que os romanos não o aproveitassem, derramavam com tumulto a sua cólera, através da piedosa terra submissa. E a todos aterrorizavam com as suas malfeitorias.

8

À entrada das pontes detinham os peregrinos, gritando o nome do Rabi, rasgando véus às virgens e à hora em que os cântaros se enchem nas cisternas, invadiam as ruas estreitas dos burgos, penetravam nas sinagogas e batiam sacrilegamente, com os punhos das espadas, nos armários que continham os Livros Sagrados.

9

Nas cercanias de Hébron arrastavam os Solitários pelas barbas para fora das grutas, para lhes arrancar o nome do deserto ou do pomar em que se ocultava o Rabi. As gentes dos campos fugiam espavoridos e da beira dos eirados, as velhas sacudiam como taleigos a ponta dos cabelos desgrenhados e arrojavam sobre eles as Más Sortes, invocando a vingança de Elias.

5

Branca e triste como a lua num cemitério, sem um queixume, sorrindo palidamente a seu pai, definhava, sentada na alta esplanada do forte, sob um velário, alongando saudosamente os negros olhos tristes pelo azul do mar Tiro, por onde navegara da Itália, numa opulenta galera. Ao seu lado, por vezes, um legionário, entre as ameias, apontava vagarosamente ao alto a flecha, e varava uma grande águia, voando de asa serena, no céu rutilante. A filha de Séptimo seguia um momento a ave, torneando até bater morta sobre as rochas: - depois, com um suspiro, mais triste e mais pálida, recomeçava a olhar para o mar.

13

Com a cabeça derrubada, devagar, como numa tarde de derrota, os soldados voltaram ao forte de Cesareia para grande desespero de Séptimo, pois a sua filha morria, sem um queixume, olhando o mar de Tiro e todavia, a fama de Jesus, curador dos lânguidos males, crescia como a aragem da tarde que sopra através dos hortos e que reanima e levanta as açucenas pendidas.

14

Ora, entre Enganim e Cesareia, num casebre desgarrado e sumido, vivia uma mulher viúva; a mais desgraçada mulher de todas as mulheres de Israel. O seu filho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ela o criara, para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos mirrando e gemendo.

17

Até que um dia, um mendigo entrou no casebre, repartiu o seu farnel com a mãe amargurada, e sentado na pedra da lareira fria, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na Galileia e que de um pão no mesmo cesto, fazia sete. Contou que esse Rabi amava todas as criancinhas e enxugava todos os prantos, prometendo um grande e luminoso Reino, de abundância maior, que o da corte do Rei Salomão.

18

A mulher escutava, com olhos famintos. - "E esse doce Rabi, esperança dos tristes, onde se encontra?" - perguntou ela ao mendigo O mendigo suspirou… Quantos o desejavam… A sua fama era conhecida em toda a Judeia, mas só os ditosos que o seu desejo escolhia, conseguiam ver o seu rosto.

19

Obede, tão rico, (continua ele) mandara os seus servos e não tinha conseguido chamar Jesus; Séptimo, tão soberbo, destacara os seus soldados até à costado mar e também estes voltaram, como derrotados, com as sandálias rotas de tanto caminhar, sem terem descoberto em que lugar, mata ou cidade, toca ou palácio, se escondia Jesus.

15

Também a ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados, mais escura e torcida do que uma cepa arrancada. Sobre ambos, espessamente, a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num ermo húmido. Até na lâmpada de barro há muito secara o azeite. Dentro da arca pintada não restava grão ou côdea.

20

A tarde caiu. O mendigo agarrou o seu bordão e começou a descer pelo duro trilho entre urges e rochas abaixo. A mãe retornou mais vergada e abandonada, E então, o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar de uma asa pediu à mãe que lhe trouxesse esse Rabi que tanto amava as criancinhas e sarava todos os males. Esguedelhada e apertando a cabeça, a mãe respondia:

21

"Oh, meu filho! Como queres que te deixe e me meta aos caminhos à procura desse homem que aos pobres e tristes muito ama, se Obede que é rico e tem servos não o conseguiu… Nem tampouco o foi capaz de trazer Séptimo, que tem soldados e a sua casa é farta em abundância… Como queres que eu te deixe?? Assim trôpega e triste até os cães me ladrariam à porta dos casais".

23

De entre os negros trapos, o menino erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou mais uma vez… - Mãe, eu queria ver Jesus… E logo abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:

Calendário do Advento Biblioteca Escolar -AE Coelho e Castro

2021

22

Mas o menino insistia… Queria ver Jesus. Mas como? Nem mesmo os ricos e os fortes o haviam encontrado. Talvez tivesse morrido e assim o céu o trouxera, o céu o levara e com ele, para sempre, levava, também, a esperança dos tristes.

4

Por esse tempo, um centurião romano, Públio Séptimo, comandava o forte que dominava o vale de Cesareia, até à cidade e ao mar. Públio, homem áspero, veterano na campanha de Tibério enriquecera durante a revolta de Samaria com presas e saques; possuía minas na Ática e gozava do legado imperial da Síria. Mas uma dor roía a sua prosperidade muito poderosa, como um verme rói um fruto muito suculento. Sua filha única, para ele mais amada que vida e bens, definhava com um mal sutil e lento, estranho mesmo ao saber dos esculápios e mágicos que ele mandara consultar a Sídon e a Tiro.

6

Ouvindo contar a mercadores de Corazim, deste Rabi admirável, tão potente sobre os Espíritos, que sarava os males tenebrosos da alma, Séptimo destacou três decúrias de soldados para que o procurassem pela toda a Galiléia até ao mar. Os soldados enfiaram os escudos nos sacos de lona, espetaram nos elmos ramos de oliveira – e apressadamente se afastaram. As suas armas, de noite, brilhavam no topo das colinas, por entre a chama dos archotes. De dia invadiam os casais, rebuscavam os pomares, esfuracavam a palha das medas; As mulheres assustadas, para os amansar, logo lhes acudiam com bolos de mel, figos novos e malgas cheias de vinho, que eles bebiam de um trago.

16

Dentro da arca pintada não restava grão ou côdea. Era tal a miséria que até no estio, sem pasto algum, a cabra morrera-lhe e no quinteiro, a figueira havia, há muito secado. Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava portal adentro. Somente as ervas, colhidas nas fendas das rochas, cozidas sem sal, nutriam aquelas duas criaturas de Deus, na terra Escolhida, onde até às aves maléficas lhes sobrava sustento.

12

- "Oh romanos! Mágicos e feiticeiros são vendilhões, que murmuram palavras ocas, para arrebatar a espórtula dos simples… Sem a permissão dos imortais nem um galho seco pode tombar da árvore, nem seca folha pode ser sacudida da árvore. Não há profetas, não há milagres… Só Apolo Délfico conhece o segredo das cousas!"

10

E assim, de tumulto em tumulto chegaram a Áscalon sem encontrarem Jesus. Uma madrugada, já perto de Cesareia, marchando num vale, avistaram sobre um outeiro um verde-negro bosque de loureiros, onde alvejava, recolhidamente, o fino e claro pórtico de um templo. Um velho de barbas brancas e compridas, coroado de folhas de louro, vestido com uma túnica cor de açafrão, segurando uma lira de três cordas, esperava, sobre os degraus de mármore, a aparição do sol.

11

Agitando com um ramo de oliveira, os soldados bradavam ao Sacerdote. Conhecia ele um novo Profeta que surgira na Galileia, e era tão destro em milagres que ressuscitava os mortos e mudava a água em vinho? Serenamente, alargando os braços o sacerdote, exclamou sobre a rociada verdura do vale:

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Aqui estou. O suave milagre - Eça de Queirós (adaptado e suprimido)