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Contos de fadas e contos tradicionais de todo o mundo

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Toca nos pontos assinalados para leres uma história de encantar!

O GUERREIRO INVISÍVEL América do Norte Há muito tempo, as margens de uma enorme baía, vivia um grande guerreiro indígena que tinha um estranho e maravilhoso poder: o de tornar-se invisível. Era conhecido junto ao seu povo como Vento Forte, o Invisível. Morava com a irmã numa tenda perto do mar. Muitas donzelas queriam casar com ele, porém o guerreiro só se casaria com a primeira que fosse capaz de vê-lo chegar a casa à noite. Muitas tentaram, mas ninguém conseguia. Vento Forte usava um inteligente artifício para testar a veracidade daquelas que tentavam conquistá-lo. Todos os dias, ao entardecer, a irmã passeava pela praia com uma das jovens que desejava ser esposa do guerreiro. A irmã conseguia vê-lo sempre, mas só ela e mais ninguém. Sob a luz do crepúsculo, ao vê-lo aproximar-se de casa, a irmã perguntava à pretendente: - Consegues vê-lo? E todas mentiam: - Sim! A irmã, então perguntava: - Com o que é que está a puxar o trenó? E elas respondiam: - Com uma pele de alce... - Com um cajado... - Com uma corda” ... E a irmã logo via que era mentira. Muitas foram as que tentaram e muitas foram as que mentiram. Vivia na aldeia um grande chefe com três filhas. A mãe das meninas morrera há muito tempo. A mais nova era linda, amável e todos gostavam dela. Por causa disso, as irmãs mais velhas passaram a ter ciúmes dos seus encantos. Tratavam-na muito mal, davam-lhe roupas esfarrapadas para que ela tivesse má aparência, cortaram os seus longos cabelos negros e deitaram em cima da jovem as brasas de uma fogueira para que ela ficasse marcada. Mas a jovem tinha paciência e mantinha o bom coração, continuando a fazer seus trabalhos com alegria e disposição. Como outras jovens da tribo, as filhas mais velhas do chefe tentaram conquistar Vento Forte. Mas, como as outras, mentiram e o guerreiro manteve-se afastado delas. Um dia, a filha mais nova do chefe, com seus andrajos e marcas no corpo, resolveu procurar Vento Forte. Remendou as roupas com pedaços de casca das árvores, colocou os poucos ornamentos que possuía e foi tentar ver o Guerreiro Invisível. Suas irmãs troçaram dela e no seu caminho até a praia, todos fizeram piadas da moça maltrapilha. Mas ela prosseguiu em silêncio. A irmã de Vento Forte recebeu a jovem com amabilidade e, ao baixar o crepúsculo, levou-a à praia. O guerreiro não tardou a chegar a casa, puxando o trenó. E a irmã perguntou se a jovem conseguia vê-lo. - Não! – respondeu a jovem e a irmã do guerreiro se surpreendeu muito, pois ela estava dizendo a verdade. A irmã de Vento Forte tornou a perguntar se a jovem conseguia vê-lo agora. - Sim! Ele é maravilhoso! Está a puxar o trenó com o Arco-Íris ! – respondeu a moça, bastante assustada. E a irmã do guerreiro perguntou de que era feito o arco. - Da Via Láctea! – respondeu a jovem Como a jovem tinha dito a verdade da primeira vez o Guerreiro tornou-se visível. A irmã de Vento Forte levou, então, a jovem filha do chefe para casa, preparou um banho para ela, e todas as cicatrizes do rosto e do corpo desapareceram. Os seus cabelos cresceram novamente, negros como as asas dos corvos. A moça recebeu bonitas roupas para vestir e ricos adereços. A irmã do guerreiro convidou a jovem a tomar o lugar de esposa na tenda. E logo Vento Forte entrou, indo sentar-se ao seu lado, e dizendo que ela era sua noiva. No dia seguinte, ela se tornou sua esposa, e passou a ajudá-lo nos grandes feitos. As suas irmãs mais velhas ficaram furiosas e nunca chegaram a saber o que aconteceu. Mas Vento Forte, que sabia da crueldade das duas, resolveu castigá-las. Utilizando o seu enorme poder; transformou-as em álamos (que são árvores com flores pequenas, casca rugosa e que fornecem madeira alva, leve e macia). Desde então, as folhas dos álamos tremem sempre, com medo do Vento Forte chegar, mesmo que ele venha tranquilo, pois recordam de sua força e poder.

OS COMPADRES CORCUNDAS Os Compadres corcundas é um conto tradicional do Brasil, uma recolha feita no âmbito da divulgação do património da tradição oral da CPLP (adaptado) Era uma vez dois corcundas, compadres, um rico e outro pobre. O povo do lugar vivia rindo do corcunda pobre e não reparava no rico. O pobre andava triste e, de mais a mais, o tempo estava cruel e ele era caçador. Numa feita, esperando uns veados, já tardinha, adormeceu e acordou noite alta. Ficou sem querer voltar para casa. la-se acomodando para dormir de novo, quando ouviu uma cantiga ao longe, como se muita gente cantasse ao mesmo tempo. – Deve ser alguma desmancha de farinha aqui por perto. Vou ajudar! Desceu da árvore e colocou-se ao caminho, andando, andando, em direção à cantiga que não parava. Andou, andou até que, ao chegar perto de um serrote, onde havia uma laje limpa, muito grande e branca, viu uma roda de gente esquisita, vestida de diamantes que espelhavam o luar. Velhos, rapazes e meninos, todos cantavam e dançavam de mãos dadas, o mesmo verso, sem mudar: Segunda, terça-feira, Vai, vem! Segunda, terça-feira, Vai, vem! O caçador tremeu de medo. As pernas nem o deixavam andar. Escondeu-se numa moita de mofundos e assistiu, sem querer, àquela cantoria que era sempre a mesma, durante horas e horas. Com o tempo, foi-se animando, ficando mais calmo e, com os seus dotes de improvisador e tocador de viola, cantou, na tom em que o povo esquisito estava a cantar: Segunda, terça-feira, Vai, vem! E quarta e quinta-feira, Meu bem! Boca para que disseste! Calou-se tudo imediatamente e aquele povo todo espalhou-se, procurando, procurando. Encontraram o corcunda e levaram-no para o meio da laje, como as formigas quando carregam baratas mortas. Largaram-no e um velho, brilhando como um sacrário, perguntou, com uma voz delicada: – Foi você quem cantou o verso novo da cantiga? O caçador cobrou coragem e respondeu: – Fui eu sim, senhor! O velho disse: – Quer vender o verso? – Quero sim, senhor. Bem, na verdade, não vendo, mas dou o verso de presente, porque gostei do baile animado. O velho achou graça e todo aquele povo esquisito riu também. – Pois bem, disse o velho: uma mão lava a outra. Em troca do verso eu tiro-lhe essa corcunda e esse povo dá-lhe um alforge novo! Passou a mão nas costas do caçador e este tornou-se esbelto como um rapaz, sem corcunda nem nada. Trouxeram um alforge novo e recomendaram que só o abrisse quando o sol nascesse. O caçador meteu-se na estrada, andando, andando, e, assim que o sol nasceu, abriu o alforge e viu que estava cheio de pedras preciosas e moedas de ouro. Só faltou morrer de contente. No outro dia, comprou uma casa, com mobília, vestiu roupa bonita e foi para a missa, porque era domingo. Lá na igreja, encontrou o compadre rico, também corcunda. Este quase caiu de costas, assombrado com a mudança. Perguntou muito e, mais espantado ficou, quando reparou no traje do compadre e soube que ele tinha uma casa, um cavalo gordo e se considerava rico. O pobre contou tudo; e, como a medida do ter nunca se enche, o rico resolveu arranjar ainda mais dinheiro e livrar-se da corcunda nas costas. Esperou uns dias, pensando no que ia fazer; depois, foi para o mato, no dia marcado. Tanto fez, que ouviu a cantiga e caminhou na direção da música. Encontrou o povo esquisito, dançando de roda e cantando: Segunda, terça-feira, Vai, vem! Quarta e quinta-feira, Meu bem! O rico não se conteve. Abriu o par de queixos e foi logo berrando: Sexta, sábado e domingo! Também! Calou-se tudo rapidamente. O povo esquisito voou para cima do atrevido e levaram-no para a laje onde estava o velho. Esse gritou furioso: – Quem lhe mandou meter-se onde não é chamado, seu corcunda estúpido? Você não sabe que a gente encantada não quer saber de sexta-feira, dia em que morreu o Filho do Alto; sábado, dia em que morreu o Filho do Pecado, e domingo, dia em que ressuscitou quem nunca morre? Não sabia? Pois fique sabendo! E para que não se esqueça da lição, leve a corcunda que deixaram aqui e suma-se da minha vista senão acabo com o seu couro! E, enquanto falava, os outros iam dando empurrões, bofetadas e beliscões no rico. O velho passou a mão no peito do corcunda e deixou ali a outra, aquela de que o compadre pobre se livrara. Depois deram uma carreira ao homem, deixando-o longe, e todo arranhado, magoado, roxo de bofetadas e pontapés. E, assim, viveu o resto de sua vida, rico, mas com duas corcundas: uma adiante e outra atrás, para não ser ambicioso.

A donzela que era irmã de sete génios Conto persa No alto de uma montanha, no antigo Irão, morava uma donzela que foi adotada por sete génios que a encontraram na floresta enquanto caçavam. Levaram-na ao castelo onde viviam e ali foi criada por uma velha ama até fazer 17 anos. Era o dia de seu décimo sétimo aniversário, e estava tão formosa como a mais adorável princesa da terra. Nesse dia, ao olhar pela janela, viu que alguém se aproximava pela pequena estrada que conduzia ao castelo. - Ama! Ama! Que coisa é essa que vem subindo pela colina em direção ao castelo? Nunca vi nada parecido em toda a minha vida. Senhorita Fátima! – gritou a criada, que era uma mulher horrorosa, com uma verruga na cara – Afaste-se da janela. Isso que está a ver é um ser humano e não deve falar com ele porque os teus sete irmãos ficariam furiosos. Que disparate ama! – disse Fátima, que era bastante decidida e gostava de fazer as coisas à sua maneira. Vou abrir a janela e chamá-lo-ei, pois parece cansado. Tenho a certeza de que está perdido e faminto. A criada começou a falar e falar, mas Fátima não lhe prestou a menor atenção e, abrindo a janela, chamou o viajante com uma voz melodiosa: - Entre no castelo ser humano para que possa descansar e recuperar forças comendo e bebendo algo. Estou só, pois os meus irmãos estarão todo o dia caçando. O estrangeiro era um príncipe chamado Nureddin, que havia perdido o seu cavalo ao passear pelas redondezas. Nureddin não pode evitar maravilhar-se com aquela formosa jovem que o convidava do alto do castelo. A criada abriu as portas e, meia hora depois, Nureddin encontrava-se sentado com Fátima comendo uvas, queijo e um delicioso pão. Fátima estava encantada com o jovem. Fez centenas de perguntas e ele falou do mundo que havia além do castelo. Preciso de conhecer essas maravilhas – disse ela. Ah... se os meus irmãos desejassem partir...! – A senhorita sabe que, os meus senhores, nunca a deixarão partir do castelo, pois eles são muito zelosos e dariam morte a este humano se o virem aqui - repreendeu a criada que os servia - Então eu mesma descobrirei a maneira de fugir do castelo – declarou Fátima. Assim verei as maravilhas do mundo descritas por este jovem. O príncipe não cabia em si de felicidade e prometeu a Fátima que a levaria ao reino logo que tivesse descansado. Porém, antes que Fátima pudesse dizer algo, foram ouvidos gritos que vinham da entrada e latidos de cães, misturados com o relinchar de cavalos. - Oh, ser humano! – gritou a criada - Esconda-se nesta arca pois, os meus senhores, voltaram e fá-lo-ão em pedaços no momento que o virem. Ainda que ela fosse um génio e também detestasse os humanos, sabia que a sua jovem ama havia gostado do jovem e por isso queria ajudá-lo. Imediatamente o príncipe entrou na arca e Fátima fechou-o com mão nervosa. Apenas tinha se escondido, a porta abriu-se e os sete irromperam na sala. Irmã Fátima! Irmã Fátima, que temos para comer? – vociferou um deles, dando início a um monumental barulho de vozes e risadas, enquanto tiravam suas enormes botas. Fátima e a criada ajudaram-nos, nervosas, a tirarem os casacos de pele. - Ama, traga vinho. Estamos ardendo de sede! A velha saiu apressada para cumprir a ordem. De repente os génios, um depois do outro, começaram a fungar com os seus enormes narizes e gritaram enfurecidos: - Um homem, um homem! Sinto o cheiro de um homem! Fátima ficou pálida e seu coração bateu violentamente. Dentro da arca o príncipe moveu-se e cobriu-se com roupas para não ser descoberto. - Alguém esteve aqui irmã Fátima, onde está? Todos os génios se levantaram e começaram a gritar furiosos. Iniciaram uma febril busca de um quarto a outro, abrindo todas as portas, cheirando e bufando como bestas selvagens. Estavam tão excitados que não lhes ocorreu, num primeiro momento, procurar na arca e Fátima, aproveitando que estavam noutra sala do castelo, ajudou o príncipe a sair. Depressa, depressa, vou mostrar-te um caminho secreto para saíres do castelo. Se não foges, os meus irmãos far-te-ão em pedaços! A noite caía e ouviam-se os génios enfurecidos, verificando sala por sala de todo o castelo. Fátima começou a sentir medo. Os dois correram de mãos dadas em direção ao fogão e ali ela ajudou-o a entrar na chaminé. -Vem comigo Fátima! vou-te libertar deste terrível lugar - sussurrou o príncipe - Ela assentiu silenciosamente. Assim subiram pelas pedras da chaminé, até que finalmente os recebeu uma noite carregada de estrelas. - Onde estão os cavalos? - perguntou o príncipe com tom de urgência. Fátima conduziu-o ao estábulo. Silenciosamente, como duas sombras, deslizaram por detrás do castelo. Os criados das cavalariças repartiam os dinheiros dos roubos do dia e não viram como um par dos melhores alazões eram retirados por Nureddin. Quando estavam montados, o barulho dentro do castelo aumentou e os sete génios viram, à luz da lua, como fugiam os dois jovens, galopando através dos enormes portões de entrada. - Atrás deles! – rugiu o mais velho – vamos trazê-los vivos para os assarmos como duas galinhas! Os cavalos galoparam como o vento, montanha abaixo, como animais encantados que eram. Contudo, logo, vieram os sete génios montando cavalos igualmente ligeiros e fortes. -Fátima volta. Perdoamos-te, porém deixa-nos matar este humano! A jovem, assustada, podia ouvi-los a gritar e sabia que não passaria muito tempo até que os irmãos a alcançassem. Então, ela revistou o seu bolso e encontrou uma semente mágica que lançou por cima do seu ombro esquerdo. No mesmo instante, uma enorme planície de espinhos surgiu entre os génios e os fugitivos. Os cavalos dos génios não puderam correr como antes, pois os espinheiros enroscavam-se nas suas patas e atrasavam-nos, mas ao cabo de meia hora já estavam no seu encalço e Nureddin perguntou: -Fátima! Que vamos fazer? Temos que detê-los, pois estamos ainda a meio caminho do reino de meu pai, ao qual chegaremos ao amanhecer, se os génios não nos alcançarem. -Não tenhas medo! – disse Fátima com bravura, procurando mais uma vez dentro do seu bolso – creio que posso fazer algo. E lançou por cima do seu ombro esquerdo uma pinha. Imediatamente surgiu um incrível bosque de árvores e os fugitivos puderam galopar sem ser vistos. Os intrépidos animais levaram-nos cada vez mais próximos das terras do príncipe. Fátima, com os cabelos flutuando ao vento, começava a sentir-se a salvo quando o príncipe olhou para trás e gritou: -Ah! Alcançaram-nos de novo. Vão apanhar-nos dentro em pouco, a menos que algo os detenha. Fátima procurou no seu bolso, e já caía em desespero quando seus dedos se fecharam sobre um grão de sal. Atirou-o para trás e imediatamente um espumoso mar surgiu detrás dos cascos do seu cavalo e nele caíram os génios e seus cavalos afogando-se, pois os génios não nadam bem em água salgada. Fátima e Nureddin cavalgaram um pouco mais e, quando o dia estava a nascer, chegaram à bela cidade de Nashapur. Ali, o palácio real brilhava com esplendor de ouro e turquesa, com pavões nas alamedas do jardim exibindo cheios de pompa as suas esplêndidas plumas. Então, os soldados das muralhas, vendo o príncipe aproximar-se, fizeram soar as trombetas de prata incrustadas de raras pedras preciosas. Fátima foi recebida como uma princesa, e casou-se com o príncipe numa esplêndida festa que durou sete dias e sete noites. Os cavalos encantados que os levaram até ali desapareceram quando a lua estava cheia. Eles sabiam que sua jovem ama era, apesar de tudo, um ser humano, e preferiam viver a serviço dos génios, pois esta é a lei mágica estabelecida quando o mundo começou através de Salomão, rei dos magos e das bestas encantadas, sobre quem seja a paz.

A Moura Torta Conto Espanhol Havia um rei que tinha um filho, e quando este chegou à idade de casar, disse aos seus pais: - Quero-me casar com a mulher mais formosa do mundo. Assim, vou percorrer o mundo até encontrá-la. Saiu do palácio e caminhou até chegar a uma fonte, onde parou para beber água. Ao inclinar-se para beber, viu que se refletiam três laranjas. Ergueu os olhos e viu que, de uma frondosa laranjeira, pendiam três grandes e belas laranjas. - Que saborosas devem ser, disse o príncipe, e dizendo isso, subiu na árvore e cortou as três preciosas laranjas. Partiu a primeira e, como por encanto, saiu dela uma jovem muito linda que, ao ver o príncipe, lhe disse: - Dá-me pão. - Não posso, disse ele, porque não tenho. - Então volto para minha laranja, disse a jovem, e desaparecendo, deixou a laranja intacta. Partiu o príncipe a segunda laranja e da fruta saiu outra jovem, muito mais bela que a primeira. - Dá-me pão, disse ao príncipe. - Não posso, pois não tenho, disse ele. - Então volto para minha laranja. A laranja fechou-se e ficou como antes. O príncipe ficou pensativo e, decidiu conseguir pão, a fim de dar à última jovem da laranja. Assim pensava o jovem, quando coincidiu de passar por ali um cigano no seu coche. - Amigo, gritou o príncipe - dar-te-ei uma moeda de ouro por um pedaço de pão. Rapidamente o cigano desceu da carruagem e correu a levar o pão ao príncipe. O príncipe ficou muito contente e satisfeito. Partiu a terceira laranja e, como havia imaginado, do coração da fruta saltou uma jovem muito mais formosa que as anteriores. - Dê-me pão, ela disse. O príncipe alegremente deu o pão à jovem, que em seguida disse: - Agora pertenço-te, podes fazer de mim o que quiseres. - Contigo me caso, disse-lhe o príncipe. Como a jovem estava nua, o príncipe queria antes vesti-la para levá-la ao palácio. Deu uma olhada nas roupas do cigano que ainda permanecia ali, porém notou que estavam muito sujas. O príncipe então disse à jovem: - Espera aqui com este cigano até que eu volte com uma roupa. O cigano tinha uma filha que viajava com ele no coche mas que tinha dormido durante todo o tempo em que a história das laranjas ocorria. Ao despertar no momento em que o príncipe subia para o cavalo, caiu de amores por ele. Desceu logo do coche e foi perguntar ao pai o que estava a acontecer. Ele contou-lhe o ocorrido. A cigana, vendo a jovem, disse: - Deixa-me pentear-te para que fiques mais bonita para o regresso do príncipe. A jovem consentiu, e enquanto a cigana penteava a sua formosa cabeleira, sentiu que lhe cravavam um alfinete na cabeça. No momento a dama da laranja transformou-se numa pomba. A cigana então tirou a roupa e colocou-se no lugar onde estava a jovem. O príncipe voltou e quando viu a cigana, disse: - Senhora! Como escureceste! A cigana respondeu: - É que demoraste e acabei por ficar queimada do sol. O príncipe, acreditando ser a mesma jovem da laranja, levou a cigana ao palácio e casou-se com ela. Um dia chegou uma pombinha ao jardim do rei e disse ao jardineiro: Jardineirinho do rei, como está o príncipe com a sua mulher? - Umas vezes canta, porém mais vezes chora - disse o jardineiro. Todos os dias chegava a pombinha e fazia a mesma pergunta ao jardineiro, até que este contou ao príncipe. O príncipe deu ordem ao jardineiro para que prendesse a pombinha. O jardineiro untou de visgo a árvore onde diariamente pousava a pombinha e, quando esta chegou para a sua visita diária, ao querer voar, ficou presa à árvore, podendo apanhá-la o jardineiro e levá-la ao príncipe. O príncipe enamorou-se da pombinha. Colheu-a com carinho e ao acariciar-lhe a cabeça, encontrou o alfinete que tinha sido cravado e retirou-o. Imediatamente a pombinha transformou-se na bela dama da laranja. A formosa jovem contou sua aventura ao príncipe e, entrando os dois no palácio, comunicaram o ocorrido ao rei. O rei, indignado, deu ordens para que imediatamente matassem a cigana, e o príncipe e a dama da laranja casaram-se e foram felizes para sempre.

A Divindade dos Homens Conto oriental Houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino. Resolveu então escondê-lo em um lugar onde seria absolutamente impossível reencontrá-lo. O grande problema era encontrar um esconderijo. Brahma convocou um conselho dos deuses menores para, juntos, resolverem o problema. - Enterremos a divindade do homem na terra, foi a primeira ideia dos deuses. - Não, isso não basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la. Então os deuses retorquiram: - Atiremos a divindade para o fundo dos oceanos. Mas Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o homem, um dia, iria explorar as profundezas dos mares e a recuperaria. Então os deuses concluíram: - Não sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar que o homem não possa alcançar um dia. Brahma então se pronunciou: - Eis o que vamos fazer com a divindade do homem: vamos escondê-la nas profundezas dele mesmo, pois será o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la. Desde esse tempo, conclui a lenda, o homem deu a volta na terra, explorou escalou, mergulhou e cavou, em busca de algo que se encontra nele mesmo.

A Princesa Sapa Conto da Rússia Há muito muito tempo havia um rei que tinha três filhos. Quando eles chegaram a uma certa idade, o rei chamou-os e disse: "Meus queridos jovens, quero que vocês casem para que possa ver os meus netos antes de morrer." E seus filhos replicaram: "Muito bem, Pai, dê-nos sua bênção. Com quem devemos casar?" "Cada um de vocês deve pegar numa flecha, ir até à campina e atirá-la. Quando a flecha cair, ali estará o vosso destino." Então os filhos curvaram-se diante do pai, e cada um pegou numa flecha e foi à campina executar o que tinha sido determinado. A flecha do mais velho caiu nos domínios de um nobre, e a sua filha apanhou-a. A flecha do filho do meio caiu no quintal de um mercador, e a sua filha apanhou-a. Mas a flecha do mais jovem, príncipe Ivan, voou e foi-se para um lugar desconhecido. Ele caminhou à sua procura, e já estava quase a desistir quando encontrou um sapo sentado com a flecha na boca. O príncipe Ivan disse: "Sapo, sapo, devolve-me a minha flecha." E o sapo replicou: "Casa comigo!" "Como posso eu casar com um sapo?" "Casa comigo, este é o teu destino." O Príncipe Ivan estava muito desapontando, mas o que poderia ele fazer? Pegou no sapo e encaminhou-se para casa. O Rei celebrou os três casamentos: o seu filho mais velho com a filha do nobre, o seu filho do meio com a filha do mercador e o pobre príncipe Ivan com o sapo. Um dia o Rei chamou os filhos e disse: "Quero ver qual de minhas noras é mais hábil com a agulha. Deixe que cada uma me faça uma camisa." Os filhos curvaram-se em direção ao pai e saíram. O Príncipe Ivan foi para casa e sentou-se numa poltrona, muito desconsolado. O sapo apareceu saltando no chão e disse-lhe: "Por que estás tão triste, Príncipe Ivan? Estás com algum problema?" "O meu pai quer que lhe faças uma camisa para amanhã de manhã." Disse o sapo: "Não desanimes, príncipe Ivan. Vai para a cama; a noite é mãe dos conselhos." Então o Príncipe Ivan foi para a cama e o sapo esperou que ele fechasse a porta, tirou a sua pele de sapo e transformou-se em Vasilisa a sábia, uma donzela com formosura além de qualquer comparação. Ela bateu as mãos e exclamou: "Criadas e amas, estejam prontas para trabalhar! Amanhã de manhã quero uma camisa como meu próprio pai usaria!" Quando Príncipe Ivan se levantou na manhã seguinte, o sapo estava novamente no chão, e numa mesa, enrolada numa fina toalha, a camisa. O Príncipe Ivan ficou encantado. Ele recolheu a camisa e levou-a ao seu pai. Encontrou o Rei recebendo os presentes dos seus outros filhos. Quando o mais velho entregou a camisa o Rei disse: "Essa camisa será de um dos meus empregados"; quando o do meio a entregou o Rei disse: "Esta é boa somente para o banho". O Príncipe Ivan entregou a sua camisa, finamente bordada em ouro e prata. O Rei tomou-a, olhou e disse: "Agora esta sim é a camisa! Eu a vestirei nas melhores ocasiões!" Os dois irmãos mais velhos foram para casa e disseram um ao outro: "Parece que rimos antes da hora da esposa de Ivan - ela não é um sapo, e sim uma feiticeira." Novamente o Rei chamou os seus filhos: "Que as vossas mulheres me façam um pão para amanhã de manhã" ele disse. Quero saber qual delas cozinha melhor.O Príncipe Ivan retornou à sua casa muito triste. A sapa perguntou-lhe: "Por que estás tão triste, príncipe?" "O Rei quer que lhe faças um pão para amanhã de manhã" replicou o seu marido. "Não te apoquentes, Príncipe Ivan. Vai para a cama; a noite é a mãe de todos os conselhos." As outras noras do rei que tinham rido da sapa na primeira vez, enviaram um velho criado para ver como é que a sapa fazia o seu pão. Mas a sapa era astuciosa e adivinhou o que elas queriam. Ela misturou a massa, partiu os ovos, colocou a água, fez uma massa e colocou-a no forno. O velho criado correu de volta para as outras esposas e disse-lhes o que tinha visto a sapa fazer. Então a sapa esperou que todos se afastassem e transformou-se em Vasilisa a Feiticeira, bateu palmas e gritou: "Criadas e amas, estejam prontas, trabalhem rápido! Amanhã pela manhã quero um pão tão leve e branco como jamais nenhum ser humano tenha experimentado." O Príncipe Ivan acordou pela manhã e encontrou sobre a mesa um pão que lhe pareceu o melhor que já tinha provado, todo enfeitado com belas figuras, e levou-o imediatamente ao pai. O rei, ao experimentar o pão levado por Ivan, exclamou: "Isso é o que chamo de pão! É tão bom que só serve para ser comido nos feriados!" E o Rei determinou que os seus filhos trouxessem, no dia seguinte, as suas esposas para um banquete. Príncipe Ivan tornou-se sombrio novamente. A sapa, vendo-o assim, perguntou: "Por quê a tristeza, príncipe Ivan? O teu pai foi grosseiro contigo?" "Sapa, minha sapinha, como poderias ajudar-me? O meu pai quer que eu te leve ao banquete, mas como podes aparecer diante do povo como minha esposa?" "Não te preocupes, Ivan," disse a sapa. "Vai para a festa sozinho que eu vou depois. Quando ouvires uma batida e um estouro, não tenha medo. Se te perguntarem, diz que é apenas a tua Sapinha a saltar na caixa." Então o príncipe Ivan foi sozinho. Os seus irmãos mais velhos levaram as esposas, maquilhadas e vestidas com roupas finíssimas. Eles aproveitaram para fazer troça de Ivan: "E então, Ivan, não trouxeste a tua esposa? Podias tê-la embrulhado num lenço. Não deverias deixá-la sozinha por aí, com tanta beleza. Deves procurá-la no pântano!" O Rei e seus filhos e noras e todos os convidados começaram o banquete. De repente, houve uma batida e um estouro que foi ouvido em todo o palácio. Então o príncipe Ivan disse: “Não tenham medo, boa gente, é apenas a minha sapinha a saltar na sua caixa.” Foi então que uma carruagem dourada, puxada por seis cavalos brancos parou em frente ao palácio e Vasilisa, a Feiticeira, num vestido azul-turquesa cheio de estrelas e com uma lua sobre sua cabeça, tomou Ivan pela mão e levou-o até a mesa do banquete. Os convidados começaram a comer, a beber e a divertir-se. Vasilisa bebeu do seu copo e despejou as sobras na sua luva esquerda. Então, comeu e colocou os ossos na luva direita. As esposas dos príncipes mais velhos viram-na a fazer isso e imitaram os seus gestos. Quando o banquete acabou, era hora da dançar. Vasilisa convidou Ivan, e ambos dançaram e rodopiaram, sob os olhares admirados de todos. Ela sacudiu então sua luva esquerda e... apareceu um lago! Ela sacudiu a luva direita e cisnes começaram a nadar no lago. O Rei e os seus convidados ficaram impressionados com tal maravilha. Então as noras do rei foram dançar. Elas sacudiram uma das luvas, mas apenas vinho caiu sobre os convidados; sacudiram a outra, mas apenas ossos roídos caíram, sendo o Rei atingido na testa por um. Enquanto isso, Ivan correu de volta para casa. Ele encontrou a pele do sapo e atirou-a para a lareira. Quando Vasilisa voltou para casa, procurou a pele mas não conseguiu encontrá-la. Triste, disse a Ivan: “O que fizes-te? Se tivesses esperado mais alguns dias, eu seria tua para sempre. Mas agora, adeus. Procura-me além das Trinta e Nove Terras, no Décimo Reino, onde Koshchei, o Imortal, vive.” Dizendo isso, transformou-se num cuco cinza e voou pela janela. O Príncipe Ivan, desesperado, partiu em busca da sua esposa, Vasilisa. Caminhou, caminhou, tanto que os seus sapatos perderam as solas, e a sua túnica se rasgou, e sua capa não mais o protegia da chuva. No caminho, encontrou um homenzinho, muito muito velho. "Bom dia, meu rapaz”, disse o velhinho. "Onde vais e qual a tua missão?” Príncipe Ivan contou-lhe o acontecido. "Ah, por que queimaste a pele, Ivan?" disse o velho. "Ela não era tua nem era teu direito fazê-lo. Vasilisa ficou tão sábia quando o seu pai, e por isso ele enraiveceu-se e transformou-a num sapo por três anos. Ah, bom, mas não vai ajudar-te agora. Pegua nesse rolo de fio e segue para o local para onde ele se desenrolar.” Ivan agradeceu ao homenzinho e seguiu a bola de fio. Num campo aberto, ele encontrou um urso. Ivan estava pronto a matá-lo quando ouviu-o falar em voz humana: “Não me mates, príncipe Ivan, pois talvez precises de mim um dia." Ivan então deixou o urso partir. Subitamente ele viu um pato voando sobre sua cabeça. Pegou na sua arma e, quando foi atirar, ouviu o pato falar com voz humana: “Não me mates, Ivan, pois talvez precises de mim um dia.” Ele poupou o pato. O mesmo aconteceu em seguida, só que com uma lebre e mais uma vez ele poupou a vida do animal. Caminhando ainda, Ivan chegou ao mar e viu um lúcio debatendo-se na areia. “Ah, príncipe Ivan”, disse o peixe, “atira-me de volta ao mar.” Então, ele atirou o peixe de volta para a água e continuou seguindo a bola de fio, indo parar a uma floresta, onde encontrou uma cabana de madeira. Lá, estava sentada Baba-Yaga, a bruxa, com uma vassoura na mão. Quando ela viu Ivan, disse: "Ugh, ugh, sangue russo, nunca encontrado por mim, agora eu sinto o cheiro na minha porta. Quem é? Onde está?” "Poderia dar-me comida e bebida e um banho de vapor," pediu Ivan. Então, Baba-Yaga deu-lhe um banho de vapor, alimentou-o e colocou-o na cama. Então o Príncipe Ivan perguntou-lhe sobre a sua mulher, Vasilisa a sábia. "Eu sei, eu sei,"disse Baba Yaga. "A tua esposa está agora sob o poder de Koshchei, o Imortal. Vai ser duro trazê-la de volta. Koshchei é mais forte que tu. A morte está na ponta de uma agulha. A agulha está num ovo. O ovo está num pato. O pato está numa lebre; a lebre num cofre; o cofre no topo do mais alto carvalho que Koshchei, o Imortal, guarda com olhos de águia." Ivan passou a noite com Baba-Yaga, e, pela manhã, ela mostrou-lhe o caminho até ao carvalho. Ele caminhou, caminhou, e chegou até ao carvalho, onde viu o cofre de pedra no topo. Mas era muito difícil de atingir. De repente, surgiu um urso e, atirando-se sobre a árvore, sacudiu-a de tal forma que o cofre caiu, partiu-se e abriu. Do cofre saiu uma lebre que partiu numa corrida. A outra lebre, cuja vida o príncipe havia poupado, disparou atrás da primeira e capturou-a. De dentro dela saiu um pato, que partiu como uma flecha pelo ar. Mas em seguida o pato, cuja vida Ivan havia poupado, partiu em sua perseguição, e fê-lo soltar o ovo, que caiu no mar. Ivan caiu em prantos. Como poderia encontrar o ovo no mar? Neste momento o lúcio, salvo por Ivan, nadou até à borda da praia com o ovo na sua boca. Ivan partiu o ovo, pegou na agulha e quebrou a sua ponta. Não demorou muito para que Koshchei se curvasse e gritasse, mas tudo em vão. Caiu morto. Ivan correu até ao castelo de pedras brancas. Vasilisa correu em sua direção e abraçando-o, beijou-o. E príncipe Ivan e Vasilisa voltaram para a sua própria casa e viveram em paz e felicidade até a velhice.

As Crianças Golfinho Austrália O dia estava tão quente que todos estavam desanimados e as atividades diárias se tornaram praticamente impossível. Então a tribo decidiu sair do campo e ir para a costa. Sua jornada seria difícil tanto para as crianças quanto para idosos, mas os filhos mais velhos viram tudo como uma aventura emocionante. Eles acharam que era uma oportunidade para aproveitar ao máximo. Por causa da empolgação, logo eles foram alertados a permanecer perto. Finalmente, quando o sol desapareceu sob a terra, eles chegaram ao mar e acamparam perto de uma fonte de água doce. Começaram a encher os recipientes de água e preparar uma refeição antes de parar para um merecido descanso. No entanto, três dos filhos mais velhos estavam faltando. Assim que a tribou notou o desaparecimento, foi organizado um grupo de busca antes que ficasse muito escuro para encontrá-los. Os homens descobriram os rastros deles e descobriram que tinham ido explorar por conta própria sem permissão de seus pais, e isso era imperdoável, porque eles sabiam que era proibido e perigoso. A trilha os levou a uma saliência rochosa e terminou abruptamente. Os homens esperavam vê-los, quer na parte rasa ou mesmo nadando. Mas não havia local para pisar. A borda era de pura rocha cercada de águas profundas. Então onde estavam as crianças? Assim como as pessoas que chegaram à costa, as três crianças correram para a saliência rochosa olhando com admiração o mar pela primeira vez. Mas para eles não era nada mais do que uma lagoa grande, então eles fizeram o que sempre fez em um dia quente, simplesmente pularam nele. Ao boiar na água, eles perceberam que estavam em apuros porque a corrente provocada pelas ondas batendo nas rochas começou a levá-los para longe no mar, e os seus pedidos de ajuda foram em vão. Então Boomali, um espírito do mar veio em seu auxílio. Sabia que as crianças trouxeram aquele perigo sobre eles próprios, ignorando deliberadamente tudo o que tinha sido ensinado, somente porque queria se divertir, então que assim seja. Ele os transformou em golfinhos, condenados a brincar no mar para o resto de suas vidas sem ver seus entes queridos novamente.

Por que é que os Leopardos têm pintas Conto africano O Leopardo era muito amigo do Fogo visitando-o todos os dias, embora este nunca fosse a sua casa. Estas visitas sucederam-se durante tanto tempo, que a mulher do Leopardo zangando-se com o marido, disse-lhe que o amigo nunca retribuía as visitas porque sabia que eles eram pobres e portanto não lhe interessava ir a casa deles. E de cada vez que o marido saía de casa, ela dizia-lhe sempre a mesma coisa. Isto sucedeu-se também tantas vezes, que o pobre do Leopardo, já cansado das discussões com a mulher, pediu ao Fogo que lhe retribuísse a visita. Ao princípio, o Fogo tentou escusar-se, dizendo que nunca ia a casa de ninguém porque não podia andar. Mas quando o amigo lhe perguntou se era porque eles eram pobres e lhe contou as discussões que, por causa disso, tinha com a mulher, insistindo muito na visita, o Fogo acabou por concordar, com uma condição: para ele poder chegar a casa do Leopardo, era necessário haver uma estrada de folhas secas que fosse desde a sua casa até à do amigo. Muito contente, o Leopardo contou depois a conversa à mulher, que logo se pôs a apanhar folhas secas para fazerem o caminho. Quando a passagem ficou terminada, o Leopardo combinou com o amigo a visita à sua casa no dia seguinte. Estavam marido e mulher à espera do visitante quando sentiram um vento forte acompanhado de um ruído de coisas a estalar no exterior. Correram a ver o que se passava e viram o Fogo à sua porta. Este estendeu os dedos em chamas para cumprimentar o Leopardo, mas este e a mulher conseguiram fugir saltando por uma janela. A casa ficou toda queimada e desde então, os Leopardos têm manchas pretas como lembrança dos sítios onde os dedos do Fogo tocaram no seu antepassado, fugindo assim que o sentem ao longe.

AS TRÊS CIDRAS DO AMOR PORTUGAL Era uma vez um príncipe, que andava à caça: tinha muita sede, e encontrou três cidras; abriu uma, e logo ali lhe apareceu uma formosa menina, que disse: – Dá-me água, senão morro. O príncipe não tinha água, e a menina expirou. O príncipe foi andando mais para diante, e como a sede o apertava partiu outra cidra. Desta vez apareceu-lhe outra menina ainda mais linda do que a primeira, e também disse: – Dá-me água, senão morro. Não tinha ali água, e a menina morreu; o príncipe foi andando muito triste, e prometeu não abrir a outra cidra senão ao pé de uma fonte. Assim fez; partiu a última cidra, e desta vez tinha água e a menina viveu. Tinha-se-lhe que brado o encanto, e como era muito finda, o príncipe prometeu casar com ela, e partiu dali para o palácio para ir buscar roupas e levá-la para a corte, como sua desposada. Enquanto o príncipe se demorou, a menina olhou dentre os ramos onde estava escondida, e viu vir uma preta para encher uma cantarinha na água; mas a preta, vendo figurada na água uma cara muito linda, julgou que era a sua própria pessoa, e quebrou a cantarinha dizendo: – Cara tão linda a acarretar água! Não deve ser. A menina não pôde conter o riso; a preta olhou, deu com ela, e enraivecida fingiu palavras meigas e chamou a menina para ao pé de si, e começou a catar-lhe na cabeça. Quando a apanhou descuidada, meteu-lhe um alfinete num ouvido, e a menina tornou-se logo em pomba. Quando o príncipe chegou, em vez da menina achou uma preta feia e suja, e perguntou muito admirado: – Que é da menina que eu aqui deixei? – Sou eu, disse a preta. O sol crestou-me enquanto o príncipe me deixou aqui. O príncipe deu-lhe os vestidos e levou-a para o palácio, onde todos ficaram pasmados da sua escolha. Ele não queria faltar à sua palavra, mas roía calado a sua vergonha. O hortelão, quando andava a regar as flores, viu passar pelo jardim uma pomba branca, que lhe perguntou: – Hortelão da hortelaria, Como passou o rei E a sua preta Maria? Ele, admirado, respondeu: – Comem e bebem, E levam boa vida. – E a pobre pombinha Por aqui perdida! O hortelão foi dar parte ao príncipe, que ficou muito maravilhado, e disse-lhe: – Arma-lhe um laço de fita. Ao outro dia passou a pomba pelo jardim e fez a mesma pergunta: o hortelão respondeu-lhe, e a pombinha voou sempre, dizendo: – Pombinha real não cai em laço de fita. O hortelão foi dar conta de tudo ao príncipe; disse-lhe ele: – Pois arma-lhe um laço de prata. Assim fez, mas a pombinha foi-se embora repetindo: – Pombinha real não cai em laço de prata. Quando o hortelão lhe foi contar o sucedido, disse o príncipe: – Arma-lhe agora um laço de ouro. A pombinha deixou-se cair no laço; e quando o príncipe veio passear muito triste para o jardim, encontrou-a e começou a afagá-la; ao passar-lhe a mão pela cabeça, achou-lhe cravado num ouvido um alfinete. Começou a puxá-lo, e assim que lho tirou, no mesmo instante reapareceu a menina, que ele tinha deixado ao pé da fonte. Perguntou-lhe porque lhe tinha acontecido aquela desgraça e a menina contou-lhe como a preta Maria se vira na fonte, como quebrou a cantarinha, e lhe catou na cabeça, até que lhe enterrou o alfinete no ouvido. O príncipe levou-a para o palácio, como sua mulher e diante de toda a corte perguntou-lhe o que queria que se fizesse à preta Maria. – Quero que se faça da sua pele um tambor, para tocar quando eu for à rua, e dos seus ossos uma escada para quando eu descer ao jardim. Se ela assim o disse, o rei melhor o fez, e foram muito felizes toda a sua vida.

A soberba da árvore Conto do Tibete Há muitíssimos anos, no cume mais alto dos Himalaias erguia-se uma árvore gigantesca, de extraordinária frondosidade, em cuja sombra se iam proteger os habitantes daquelas regiões. Ocorreu que, certo dia, um santo monge budista chamado Shinram, extenuado pelo calor e fadiga de uma longa caminhada, foi sentar-se à sombra acolhedora da grande árvore. E dirigiu ao esplêndido exemplar palavras de agradecimento e admiração. - É evidente -disse- que deves gozar da proteção de algum poderoso Deus, posto que nem o furacão nem as nevascas - que tão violentas são no Tibete- conseguiram desbaratar a tua magnífica cabeleira, nem abater o teu soberbo tronco no curso dos séculos. É por acaso o Deus do Vento quem te protege? - Nada disso! –contestou a árvore com altivez, sacudindo os seus ramos com um ruído semelhante ao trovão. Enganas-te, ancião. Nunca me protegeu nenhuma divindade, e menos ainda o maligno Vento, que não tem amigos nem perdoa a nada. – Então ... – disse o monge. – O que sucede, - interrompeu a árvore – é que nada nem ninguém pode contra mim, por mais forte e poderoso que seja. Quando o vento se desata furioso e sopra com seu ímpeto as demais árvores, detém-se esgotado ante a minha potência e retira-se, mudo e temeroso, desejando em seu coração que eu não me encolerize contra ele e o castigue severamente. Tais palavras cheias de soberba e de orgulho, indignaram ao bom Shinram. Olhando fixamente para a soberba árvore, o monge budista exclamou indignado: - Não te envergonhas? Como te atreves a usar este tom de desprezo para com um dos deuses mais poderosos, que é um terror do universo? E pondo-se em pé, decidiu abandonar aquele lugar, dizendo: - Vou daqui. Ainda que cansado e desejoso de sombra e frescor, não posso deter-me nem um minuto mais a falar com um ser tão indigno e tolo como tu. E seguiu, apoiando-se no seu grosso cajado, murmurando palavras de indignação contra a árvore. Mas ainda não havia desaparecido no horizonte quando o céu escureceu e a terra se pôs a tremer e apresentou-se o Vento em pessoa, com um espantoso sibilo, agitando ameaçadoramente sobre a árvore os seus potentes braços feitos de nuvens. Quando a árvore viu o poderoso Deus junto a ela, estremeceu até ao mais profundo das suas raízes, e no íntimo desejou jamais ter pronunciado aquelas insensatas palavras. - Que tal arvorezinha – falou o Vento – Achas que não sou bastante potente para ti! Hahahaha! E ao rir todas as árvores do bosque se dobraram aterrorizadas até o solo. O Vento prosseguiu, dizendo mal-humorado: - Muito bem! Quer dizer que tenho medo de ti. Não sabes que se eu quisesse te derrubaria num instante como ao menor dos arbustos? Se agora te perdoo a vida, ingrato, e te conservei intacto durante séculos, é porque na noite dos tempos, quando o mundo era em grande parte um caos, o deus Brama, cansado do trabalho da criação do mundo, repousou na tua sombra. Não sabias, acaso? - Não, não sabia – conseguiu murmurar a árvore. - E é precisamente em memória daquele feito – completou o Vento – que te concedi a vida até hoje. Mas tu insultaste-me, ultrajaste-me e por isso mereces o castigo mais atroz. Mas não o aplicarei agora, mas sim amanhã. - Perdão! – suplicou a árvore – prometo não voltar a fazê-lo. Mas o Vento, sem fazer caso desta súplica, prosseguiu em tom ameaçador: - Quero castigar-te à luz do sol, para que todos possam ver como o Vento trata os ingratos e soberbos. Até amanhã! E lançando um último sibilo que abateu as árvores da selva e fez as feras irem ao fundo de suas tocas, desapareceu tão rapidamente como tinha vindo. Pouco depois veio a noite e o silêncio envolveu o mundo. Todas as plantas adormeceram cansadas e temerosas. Só a árvore dos Himalaias velava na sua angústia. E dizia para si: "Com que gosto desdiria tudo o que disse ao monge budista e me retrataria de tudo! Agora, quem sabe o que me espera! Provavelmente serei arrancado, feito em pedaços e triturado; o meu tronco e os meus ramos serão espalhados pela selva e só serão úteis para arder numa fogueira... Depois de tantos séculos de vida e reinado, serei cinzas na terra...!" Mas, à medida que ia meditando essas coisas, ocorreu-lhe que talvez existisse uma última esperança de sobreviver: resistindo à fúria do Vento. – Sim – murmurou – despojado de todos meus ramos e folhas, poderei resistir melhor aos embates do meu inimigo. Num momento, despojou-se de todos os ramos e arrancou até à última folha e a madrugada encontrou um tronco mutilado e despido. Momentos depois apresentou-se o Vento. Vinha cheio de cólera e desejoso de se vingar. Mas então ocorreu algo surpreendente. Quando o Deus estava junto à árvore e a viu sem folhas, a sua cólera desvaneceu-se instantaneamente. E começou a rir, primeiro com um riso breve e logo uma gargalhada forte e sonora, que invadiu toda a terra. Por fim, uma vez recobrado o alento, disse com ironia: - É verdade que não te conheço, árvore soberba! O castigo que tu mesmo te infligiste foi muito mais atroz do que o que eu te poderia aplicar com toda a força de minha cólera. Agora és um espetáculo realmente grotesco, porque todos se riem de ti: os animais e plantas, os homens e também os deuses. Que maior vingança contra uma soberba como tu? Hahahah! E proferindo sonoras gargalhadas, voltou à áurea morada dos deuses, deixando a árvore triste e humilhada.

A Divindade dos Homens Conto oriental Houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino. Resolveu então escondê-lo em um lugar onde seria absolutamente impossível reencontrá-lo. O grande problema era encontrar um esconderijo. Brahma convocou um conselho dos deuses menores para, juntos, resolverem o problema. - Enterremos a divindade do homem na terra, foi a primeira ideia dos deuses. - Não, isso não basta, pois o homem vai cavar e encontrá-la. Então os deuses retorquiram: - Atiremos a divindade para o fundo dos oceanos. Mas Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o homem, um dia, iria explorar as profundezas dos mares e a recuperaria. Então os deuses concluíram: - Não sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar que o homem não possa alcançar um dia. Brahma então se pronunciou: - Eis o que vamos fazer com a divindade do homem: vamos escondê-la nas profundezas dele mesmo, pois será o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la. Desde esse tempo, conclui a lenda, o homem deu a volta na terra, explorou escalou, mergulhou e cavou, em busca de algo que se encontra nele mesmo.

Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes potes, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava às costas. Um dos vasos estava rachado e o outro era perfeito. Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada do rio até casa, enquanto o rachado chegava meio vazio. Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora a chegar a casa somente com um vaso e meio de água. Naturalmente, o vaso perfeito estava muito orgulhoso do próprio trabalho e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só metade daquilo que deveria fazer. Depois de dois anos de reflexão sobre o facto de ser 'rachado', o vaso falou com a senhora durante o caminho: 'Tenho vergonha de mim mesmo, porque este defeito que eu tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até a tua casa...' A velhinha sorriu e disse: Reparaste que há lindas flores no caminho mas apenas do teu lado? Eu sempre soube do teu defeito e, portanto, plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto voltávamos a casa, tu regava-las. Durante dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa. Cada um de nós tem os seus próprios defeitos. Mas são os defeitos que cada um de nós tem que fazem com que nossa convivência seja interessante e gratificante. É preciso aceitar cada um pelo que é... E descobrir o que há de bom nele.

A Princesa e a Ervilha Era uma vez um príncipe que viajou pelo mundo inteiro à procura da princesa ideal para se casar. Tinha de ser linda e de sangue azul, uma verdadeira princesa! Mas, depois de muitos meses a viajar de país em país, o príncipe voltou para o seu reino, muito triste e abatido pois não tinha conseguido encontrar a princesa que se tornaria sua mulher. Numa noite fria e escura de inverno, quando o príncipe já pensava ser impossível casar com uma princesa, houve uma terrível tempestade. No meio da tempestade, alguém bateu à porta do castelo. O velho rei intrigado foi abrir a porta. Qual não foi a sua surpresa ao ver uma bela menina completamente molhada da cabeça aos pés. A menina disse: “poderei passar a noite aqui no seu castelo, senhor? Fui surpreendida pela tempestade enquanto viaja já de volta para o meu reino. Estou com fome e frio e não tenho onde ficar…”. O rei desconfiado perguntou: Sois uma princesa? A princesa respondeu timidamente: “Sim, senhor”. “Então entrai, pois seria imperdoável da minha parte deixar-vos lá fora numa noite como esta!” Respondeu o rei, não muito convencido de se tratar mesmo de uma princesa. Enquanto a princesa se secava e mudava de roupa, o rei informou a rainha daquela visita inesperada. A rainha pôs-se a pensar e, com um sorriso matreiro, disse “vamos já descobrir se se trata de uma verdadeira princesa ou não…”. A rainha subiu ao quarto de hóspedes onde ia ficar a princesa e, sem ninguém ver, tirou a roupa de cama e colocou por baixo do colchão uma ervilha. De seguida colocou por cima da cama mais vinte colchões e edredões e, finalmente, a roupa de cama. Então, desceu a escadaria e dirigiu-se à princesa, apresentando-se, e dizendo amavelmente: Já pode subir e descansar. Amanhã falaremos com mais calma sobre a menina e o seu reino… A princesa subiu e deitou-se naquela cama estranha que mais parecia uma montanha!Na manhã seguinte, a princesa desceu para tomar o pequeno almoço. O rei e a rainha já estavam sentados à mesa. A princesa saudou os reis e sentou-se. Então a rainha perguntou: Como passou a noite, princesa? A princesa respondeu: “Oh, a verdade é que não consegui dormir nada naquela cama tão incómoda… senti qualquer coisa no colchão que me incomodou toda a noite e deixou o meu corpo todo dorido! O rei levantou-se e, muito ofendido, exclamou: “Impossível! Nunca nenhum convidado se queixou dos nossos excelentes colchões de penas! Mas a rainha interrompe-o e disse com um sorriso: “Pode sim!” E explicou ao rei o que tinha feito para ver se realmente se tratava de uma princesa ou alguém a querer enganá-los.A rainha levantou-se e disse a todos: “Só uma verdadeira princesa com uma pele tão sensível e delicada é capaz de sentir o incômodo de uma ervilha através de vinte colchões e edredões!”. O rei e a rainha apresentaram a princesa ao seu filho o príncipe e ele, mal a viu, ficou logo perdido de amores. Ao fim de alguns dias, o príncipe casou com a princesa, com a certeza de ter encontrado finalmente uma princesa verdadeira que há tanto tempo procurava.A partir daquele dia, a ervilha passou a fazer parte das joias da coroa, para que todos se lembrassem da história da princesa ervilha.

A Bela AdormecidaEra uma vez um rei e uma rainha. Dia após dia eles diziam um para o outro: “Oh, se pelo menos pudéssemos ter um filho!” Mas nada acontecia. Um dia, quando a rainha tomava banho, uma rã saiu da água, rastejou para a borda e disse: “O vosso desejo será realizado. Antes que se passe um ano, darás à luz a uma filha”. A previsão da rã realizou-se e a rainha deu à luz a uma menina muito bonita. Para comemorar, o rei fez um grande banquete e convidou muita gente. Vieram treze feiticeiras do reino, mas, como só haviam doze pratos de ouro, uma feiticeira ficou de fora. Vingativa, a feiticeira que foi deixada de lado decidiu vingar-se e praguejou: “Quando a filha do rei fizer quinze anos, espetará o dedo numa agulha e cairá morta!” Uma das feiticeiras que ouviu a maldição, no entanto, foi a tempo de abrandá-la e disse: “A filha do rei não morrerá, cairá num sono profundo que durará cem anos.” O rei, tentando proteger a filha, fez desaparecer todas as agulhas do reino, apenas uma restou. Conforme previsto, um belo dia, aos quinze anos, a princesa espetou o dedo na agulha que restava e caiu em sono profundo. Muitos anos se passaram e uma série de príncipes tentaram resgatar a princesa do sono profundo, sem sucesso. Até que um dia, um corajoso príncipe, motivado a reverter o feitiço, foi ao encontro da bela princesa. Quando, finalmente, conseguiu entrar no quarto onde a princesa dormia, curvou-se e beijou-a. Nesse momento, o prazo de cem anos tinha-se esgotado, tendo ele sido enfim bem-sucedido. Foi dessa forma que a princesa despertou. O casamento dos dois foi celebrado com muita pomba e os dois apaixonados viveram felizes para sempre.

PinóquioEra uma vez um senhor solitário chamado Gepeto. O que mais gostava era de trabalhar com madeira e, para ter companhia, resolveu inventar um boneco articulado a quem chamou Pinóquio. Dias depois de inventar a peça, durante a noite, uma fada azul passou pelo quarto e deu vida ao boneco, que passou a andar e a falar. Pinóquio tornou-se, assim, uma companhia para Gepeto, que passou a tratar o boneco como um filho. Assim que pode, Gepeto matriculou Pinóquio numa escola. Foi lá, através da convivência com as outras crianças, que Pinóquio percebeu que não era bem um menino como os outros. O boneco de madeira tinha um grande amigo, o Grilo Falante, que o acompanhava sempre e dizia que caminho Pinóquio deveria seguir, não se deixando levar pelas suas tentações. O boneco de madeira, que costumava ser muito astucioso, tinha por hábito mentir. Cada vez que Pinóquio mentia, o seu nariz de madeira crescia, denunciando o comportamento errado. Contestador, Pinóquio deu muito trabalho ao pai Gepeto, por causa da sua imaturidade e do seu comportamento desafiador. Mas, graças ao grilo falante, que era no fundo a consciência do boneco, Pinóquio foi tomando decisões cada vez mais sábias. Gepeto e Pinóquio viveram uma longa vida cheia de alegrias partilhadas.

O BARCO TERRESTRE O rei de um pais distante proclamou certa vez que daria a mão da sua filha a quem construísse um barco capaz de navegar em terra firme. Três irmãos decidiram tentar a proeza. No dia seguinte, ao nascer do sol, o mais velho foi até a floresta e derrubou uma árvore; mal começou a serrá-la, uma velha perguntou-lhe o que ia fazer. - Tábuas! - respondeu ele rudemente. - Pois que assim seja... - resmungou a velha. Ele esfalfou-se o dia inteiro e só conseguiu mesmo fazer tábuas.Então chegou a vez do irmão do meio, que também se deparou com a velha e lhe disse que ia fazer colheres de pau. - Pois que assim seja… - repetiu ela. O rapaz trabalhou muito e só fez mesmo colheres de pau. O último a tentar foi o mais novo. Quando a velha o abordou, contou-lhe que pretendia construir um barco terrestre. - Boa sorte! - disse ela. Ao entardecer, quando Jean estava martelando o último prego, a velha reapareceu. - Só faltam as velas - disse ela. E, vendo que o jovem a fitava desanimado, sem saber como conseguir tanto pano para as velas, ordenou-lhe: - Volte aqui amanhã com todos os trapos que encontrar. No dia seguinte o rapaz acordou bem cedo e rumou para a floresta, levando uma imensa trouxa. Num segundo a velha transformou os trapos em velas, e o rapaz saiu a navegar em terra firme. No caminho para palácio deparou-se com um homem deitado numa fonte seca. - O que está a fazer aí? - perguntou-lhe. O outro respondeu: - Estou à espera que a fonte se encha de novo, pois bebi toda a água que havia. O meu nome é esponja. O rapaz convidou-o: - Venha comigo! Mais adiante encontraram um sujeito lambendo pedras. O rapaz perguntou porque estava a fazer aquilo. E o homem respondeu: - Elas faziam parte de um forno e ainda têm gosto de pão. O meu nome é Comilão. E o rapaz convidou-o: - Venha connosco. Os três seguiram viagem e avistaram um grandalhão a mover as pás de um moinho com o seu sopro. O rapaz quis saber porque fazia isso. E o grandalhão respondeu: - O meu nome é Soprador. E o rapaz também o convidou: - Venha connosco. Depois arranjaram mais dois companheiros: Bom-de-Ouvido, um velhote que escutava até o ruído de uma folha caindo, e Relâmpago, um rapaz mais veloz que os coelhos. Quando o rapaz se apresentou no palácio, o rei não se mostrou disposto a dar-lhe a mão da sua filha. Assim, encarregou-o de encontrar um homem capaz de esvaziar todos os barris de sua adega. - Isso é fácil! O rapaz confiou a façanha a Esponja, que a realizou com louvor. Mas o rei continuou a pedir: - Agora encontre alguém capaz de devorar cem pratos de comida! Comilão cumpriu a tarefa, dando conta até das migalhas.Por fim o rapaz teve que encontrar alguém capaz de vencer a princesa numa corrida do palácio até a fonte e da fonte até o palácio. Relâmpago ofereceu os seus préstimos e num instante chegou à fonte; vendo que deixara a princesa bem para trás, resolveu deitar-se para descansar um pouco e adormeceu. Bom-de-ouvido, que ficara com os outros no jardim do palácio, colou a orelha no chão. - O folgado está a ressonar! Mais que depressa o Soprador encheu a boca de ar e soprou, afastando a princesa da fonte e acordando Relâmpago, que ganhou a corrida. O rapaz casou-se com a princesa e convidou os seus cinco companheiros para morar no palácio pelo resto da vida.