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Ler poesia ...nem sabes o bem que te fazia

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; À roda da nau voou três vezes, Voou três vezes a chiar, E disse: «Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tectos negros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo: «El-Rei D. João Segundo!» «De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?» Disse o mostrengo, e rodou três vezes, Três vezes rodou imundo e grosso,

«Quem vem poder o que só eu posso, Que moro onde nunca ninguém me visse E escorro os medos do mar sem fundo?» E o homem do leme tremeu, e disse: «El-Rei D. João Segundo!» Três vezes do leme as mãos ergueu, Três vezes ao leme as repreendeu, E disse no fim de tremer três vezes: «Aqui ao leme sou mais do que eu: Sou um Povo que quer o mar que é teu; E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo; Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João Segundo!»

O Mostrengo, existente na Mensagem de Fernando Pessoa, equivale à figura do Adamastor de Os Lusíadas. O Mostrengo é a personificação do medo e do receio. O Mostrengo, ao ser derrotado, permitiu a descoberta de um novo mundo aos Portugueses. Do mesmo modo que, o Adamastor surge como símbolo dos perigos e das adversidades que se apresentam ao ser humano que quer conhecer novos mundos.

É, também, símbolo das histórias fantásticas marítimas que aterrorizavam o ser humano. O poema de Fernando Pessoa manifesta as adversidades sentidas pelos portugueses na conquista do mar. Simultaneamente, demonstra a atitude de ousadia do marinheiro português diante daquele ser imundo e grosso. O homem do leme converte-se no símbolo de Portugal e é representante de um povo destemido que quer dominar os mares.

Beatriz Pereira Margarida Monteiro

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